terça-feira, 5 de junho de 2018

Os Arquitetos da Nova Ordem Mundial e a Revolução Cultural


No final do artigo anterior afirmei que estávamos vivenciando uma crise provocada por uma revolução de característica cultural em curso e que tem como desígnio a criação de uma Nova Ordem Mundial, que passa a ser delineada a partir dos anos 80 com a desestruturação do bloco soviético, por meio da perestroika, mas que não significou o fim do comunismo, mas o seu recomeço. Creditei aos globalistas o delineamento dessa Nova Ordem Mundial, tendo como testa de ferro a ONU e as demais organizações internacionais de caráter governamental e não governamental. Entretanto, ficou obnubilado quem são os verdadeiros arquitetos dessa Nova Ordem Mundial e da revolução cultural em processo. É sobre esses arquitetos que iremos tratar aqui e qual a finalidade de se estabelecer essa Nova Ordem Mundial centrada num Governo Mundial.

Desde o final do século XVIII que grupos de detentores de grandes fortunas tentam estabelecer um Governo Mundial. Em 1º de maio de 1776 foi criada na Baviera, conforme Gary Allen e Larry Abraham, no livro intitulado Política, Ideologia e Conspiração: a sujeira por trás das ideias que dominam o mundo, a Ordem dos Illuminati, pelo alemão Adam Weishaupt, com a finalidade de controlar o mundo. No final do século XIX e início do século XX novas organizações secretas surgiram com a mesma finalidade, onde se destaca o grupo da Mesa Redonda (Round Table), criado pelo magnata do ouro, o britânico Cecil Rhodes, referendado, inclusive, por Oswald Spengler, em sua magistral obra, A decadência do Ocidente, considerando-o “o primeiro homem de uma nova era”; o representante do “estilo político de um futuro ainda distante, ocidental, germânico e, sobretudo, alemão”; o “precursor de uma espécie de Césares ocidentais, cuja hora ainda não chegou”, achando-se “a meio caminho entre Napoleão e os representantes da força bruta que hão de surgir nos próximos séculos”; sua “posição é a mesma que ocupava, entre Alexandre e César, aquele Flamínio que, em 232 a. C., induzia os romanos a subjugarem os gauleses cisalpinos e, com isso, a iniciarem a sua política de expansão colonial”. Spengler, com a sua genialidade profética, previu, a partir do empreendimento de Rhodes, o surgimento no século XX dos novos imperadores do mundo.



O grupo Mesa Redonda, como forma de ficar no anonimato, criou diversas sucursais espalhadas pelo mundo: o Royal Institute of International Affairs, do Reino Unido, criado em 1919; os Institute of International Affairs do Canadá, da Austrália, da África do Sul, da Índia e da Holanda; e, os Institute of Pacific Relations da China, Rússia e Japão. Entretanto, a mais influente sucursal do grupo Mesa Redonda é o Council on Foreign Relations (Conselho das Relações Exteriores), criada nos Estados Unidos, em 1922. Entre os fundadores do CFR (sigla em inglês) estão, conforme Allen e Abraham, os banqueiros Paul Warburg, Jacob Shiff, Averell Harrimam, Frank Vanderlip, Nelson Aldrich, Barnard Baruch, J.P. Morgan e John D. Rockefeller. O CRE ficou conhecido, segundo os autores, como o “Establishment” e tornou-se o departamento de relações internacionais da família Rockefeller. Foram esses integrantes do CFR que participaram da criação da ONU.

O CFR não é só constituído por grandes banqueiros, há também, relatam Allen e Abraham, seguimentos de grandes corporações como, por exemplo, Standard Oil, IBM, Xerox, Firestone, General Electric; há membros de organizações de esquerda como, por exemplo, Fabian Socialist Americans for Democratic Action, a Socialist League for Industrial Democracy e a United World Federalists; existem também as fundações Rockefeller, Ford e Carnegie, bem como os think tanks Rand Corporation, Hudson Institute, Fund for the Republic e Brookings Institute; encontram-se ainda nesse rol grandes veículos de comunicação como emissoras (National Broadcasting Corporation e Columbia Broadcasting), revistas (Time, Life, Fortune, Look ) e jornais (New York Times, Washington Post, Los Angeles Times). 

Não satisfeitos, os arquitetos da Nova Ordem Mundial criaram outras organizações para implementar secretamente o seu projeto de criação do Governo Mundial. Uma das mais misteriosas é sem dúvida o Clube de Bilderberg, criado em maio de 1954, no Hotel Bilderberg, em Oosterbeek, na Holanda. O Clube foi fundado pelo príncipe Bernhard, da Holanda. Daniel Estulin, em seu livro A verdadeira história do Clube de Bilderberg, descreve os integrantes do Clube como “a elite de todas as nações ocidentais [...], um governo na sombra, que se reúne em segredo, para debater e alcançar um consenso sobre a estratégia global”. Alguns membros do Clube Bilderberg são bastantes conhecidos do mundo da política internacional: Tony Blair, Henry Kissinger, Hillary Clinton, John Kerry, Bill Gates, George Soros, as dinastias Rotheschild e Rockefeller, os presidentes dos Estados Unidos a partir de Eisenhower e membros das famílias reais europeias. Observa-se que alguns membros do Clube também são membros do Conselho das Relações Exteriores como, por exemplo, as dinastias Rotheschild e Rockefeller.

Na sua empreitada para a criação dessa Nova Ordem Mundial, os arquitetos organizaram mais dois grupos, a partir da década de 70, para a instituição do Governo Mundial: a Comissão Trilateral e o Diálogo Interamericano. A Comissão Trilateral (CT) foi fundada pelo banqueiro David Rockerfeller, juntamente com outros membros do Conselho das Relações Exteriores, em 1973. Segundo Sergio Augusto de Avellar Coutinho, em seu livro Cadernos da Liberdade, o intuito da Comissão Trilateral é estabelecer um Governo Mundial, seguindo o propósito dos pensadores fabianos (como veremos mais adiante de maneira detalhada). Para os propósitos da organização se fazia necessário dominar o governo norte-americano, tendo, assim, apoiado as eleições de membros à presidência como, por exemplo, Jimmy Carter (1976) e George Bush (1980 e 1984). Outras personalidades importantes da política norte-americana, conforme o autor, também fazem parte da CT: Henry Kissinger (ex-Secretário de Estado de Richard Nixon), Cyrus Vance (ex-Secretário de Estado de Jimmy Carter), Robert McNamara (ex-Secretário de Defesa de John Kennedy e Lyndon B Johnson), George Schultz (ex-Secretário de Estado de Ronald Reagan) e Howard Baker (ex-Secretário de Estado de Ronald Reagan).
    
O Diálogo Interamericano (DI) é, como alerta Coutinho, um instrumento executivo da Comissão Trilateral para a América Latina. Ele surge em 1982 devido a uma série de problemas na região e que afetavam os interesses dos grupos econômicos internacionais: regimes ditatoriais, movimentos comunistas na América Central, moratória do pagamento da dívida externa do México etc. O Diálogo, que possui inspiração Fabiana, seguindo os ditames da Comissão Trilateral, teve no momento inicial a participação de alguns membros da CT, juntamente com 48 participantes da América Latina, inclusive Fernando Henrique Cardoso.

Esses grupos que até o presente momento estou me referindo, e que defino como arquitetos da Nova Ordem Mundial, são denominados por Allen e Abraham como Adeptos e por Olavo de Carvalho como O Consórcio, sendo este formado, como vimos acima, grosso modo, por grandes banqueiros e capitalistas internacionais, e estão empenhados, conforme Carvalho, no livro Os EUA e a Nova Ordem Mundial: um debate entre Alexandre Dugin e Olavo de Carvalho, “em instaurar uma ditadura mundial socialista”. Esta forma de ditadura socialista é pela via pacífica, onde o Estado deve se esquivar das responsabilidades diretas de um proprietário dos meios de produção, sem, contudo, deixar de subjugar os proprietários legais através de controles fiscais, trabalhistas, sanitários, técnicos etc., até transformar os capitalistas em meros gerentes a serviço do Estado, onde esses arcam inclusive com as responsabilidades legais que o Estado renuncia. Nesse sentido, o socialismo passa a ser visto como um processo e não como um regime, não cabendo concebê-lo como proprietário dos meios de produção; tornando-se uma aliança entre o governo e o capital, através de um processo de centralização do poder econômico, favorecendo, assim, os sócios, quer os políticos de esquerda, quer a elite financeira. Simplificando: o modelo socialista adotado pelos arquitetos da Nova Ordem Mundial é, conforme Allen e Abraham, “um método de consolidação e controle de riqueza” e não “um programa de distribuição de renda”; “não é um movimento das massas oprimidas, mas da elite econômica”.

Há outros dois agentes, citados por Carvalho, que também possuem projetos de dominação global: as elites governantes da Rússia e da China e a Fraternidade Islâmica. Os agentes russo-chineses são oriundos da Nomenklatura comunista, composta por burocratas, agentes dos serviços secretos e militares, onde o seu “projeto globalista corresponde simetricamente aos interesses nacionais e os agentes principais são os respectivos Estados e governos”. O projeto globalista islâmico busca atender aos interesses dos Estados muçulmanos em prol da criação do Califado Universal, fundado em mandamentos canônicos. Não obstante a existência desses dois projetos globalistas, a Nova Ordem Mundial é produto dos arquitetos socialistas fabianos, que estão longe de serem inimigos dos Russos, Chineses e Islâmicos, como alerta Carvalho, pois necessitam deles para destruírem a soberania, o poder militar e a economia, principalmente dos Estados Unidos, que se constituem numa pedra no sapato dos propósitos globalistas dos três agentes.

Para nos aprofundarmos mais um pouco nos propósitos dos arquitetos da Nova Ordem Mundial, o livro A Conspiração Aberta: Diagramas para uma revolução mundial, do socialista fabiano britânico Herbert George Wells, publicado pela primeira vez em 1928, merece destaque. O próprio subtítulo já indica que o meio para alcançar o tão almejado Governo Mundial será a revolução. Mas essa revolução não será pela via da violência armada, mas por meio da persuasão, da lavagem cerebral, da dissonância cognitiva, ou seja, por meio de técnicas de manipulação psicológica. A Conspiração Aberta é um sistema de ideias que se baseia numa “síntese das realizações históricas, biológicas e sociológicas”, onde para o seu pleno sucesso, as informações oriundas dessas realizações em desenvolvimento devem ser incorporada à educação: “em todos os lugares os Conspiradores Abertos devem de organizar para uma reforma educacional”.



Os Conspiradores Abertos devem, conforme Wells, direcionar suas energias para a construção de um novo mundo que seja política, social e economicamente unificado objetivando a criação de um bem público mundial, a criação de um “César mundial”. Nessa nova configuração, os Estados nacionais deverão ser suprimidos, bem como tudo que representa ele: “Bandeiras, uniformes, hinos nacionais, patriotismo cultivado na igreja e na escola, a fanfarronice, exaltação e vociferação de nossas soberanias em disputa, tudo isso pertence à fase de desenvolvimento que a Conspiração Aberta suplantará”. Além da dissolução dos Estados nacionais, é sugerido por Wells para alcançar o Governo Mundial o seguinte:

a)  o controle do crescimento populacional, onde “a comunidade mundial dos nossos sonhos, a comunidade mundial organizada que conduzia e asseguraria seu próprio progresso, requer um controle populacional coletivo e deliberado como condição primordial”, voltando-se “à biologia como guia para a regulação da quantidade de população humana no mundo, bem como de sua distribuição controlada, e julga todos os aspectos subsidiários da propriedade segundo o critério da produção e distribuição mais eficientes em relação às indicações assim obtidas”;

b)  a classificação do oceano, do ar e dos animais selvagens em patrimônio coletivo, onde os Estados deverão perder o monopólio sobre seus territórios, ou seja, “ao estipularmos a substituição da propriedade individual privada por formas mais altamente organizadas de propriedade coletiva, sujeitas à crítica livre e responsáveis por toda a sociedade humana, pelo controle geral do mar e da terra, pela obtenção, preparação e distribuição de produtos essenciais e também transporte, teremos na verdade indicado todas as generalizações possíveis da propriedade coletiva que os contemporâneos mais socialistas estarão dispostos a exigir”;

c)  a administração do Governo Mundial pelos grandes industriais e banqueiros, mas não descartando a participação de outros grupos sociais comprometidos com o projeto: “a Conspiração Aberta deve ser heterogênea em sua origem. Seus agrupamentos e associações iniciais não terão um padrão uniforme. Eles serão de tamanhos, idades, experiências sociais e influências diferentes. Suas atividades particulares serão determinadas pelas coisas. Suas qualidades e influências diversas se expressarão por tentativas diferentes em cada organização, cada uma eficaz em sua própria esfera”;

d)  a ruptura com as tradições e os valores morais conservadores para que as rodas do progresso se movimentem sem qualquer tipo de obstáculo, ou seja, “Quanto mais finas e pitorescas essas lealdades obsoletas, esses padrões de honra antigos e essas associações religiosas ultrapassadas parecem para nós, mais minuciosamente devemos buscar a libertação de nossas mentes e das mentes daqueles ao nosso redor, extirpando também todo pensamento de retorno”;

e)   a eliminação das guerras e o estabelecimento da paz por meio da desmilitarização,do desarmamento e do cosmopolitismo: “Você não pode esperar uma união mundial de soldados ou diplomatas. Sua existência e natureza depende da ideia de que a separação nacional é real e incurável, e de que a guerra, no longo prazo, é inevitável. Suas concepções de lealdade envolvem um antagonismo a todos os estrangeiros, mesmo os estrangeiros de tipo exatamente igual ao seu, e criam uma campanha contínua de aborrecimentos, suspeitas e precauções – justamente com a propaganda geral, que afeta todas as outras classes, da necessidade de um antagonismo internacional – que arrastam-se persistentemente em direção à guerra”;

f)   a reforma da educação para a libertação dos valores impostos pela religião e família considerados como conservadores e reacionários, onde as “Escolas bem-sucedidas se tornariam laboratórios de métodos educacionais e de padrões para a novas escolas públicas” e as “crianças aprenderão a falar, desenhar, pensar e calcular de forma lúcida e sutil, e suas mentes vigorosas receberão conceitos amplos de história, biologia e progresso mecânico, as bases do novo mundo, natural e facilmente”. 
   


Na contemporaneidade pós Guerra Fria podemos observar que todas as sugestões ou prescrições contidas na obra de Wells estão sendo seguidas pelos arquitetos da Nova Ordem Mundial. Para o controle do crescimento populacional há um movimento demográfico malthusiano em curso, capitaneada pelas organizações internacionais comandadas pelos socialistas fabianos, especialmente pela Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e o Desenvolvimento. Não é por acaso que os socialistas fabianos defendem o aborto e os relacionamentos homoafetivos como forma de controle da natalidade. Na obra do britânico Aldous Huxley, Admirável mundo novo, – cujos personagens possuem em sua maioria sobrenomes de pessoas conhecidas do mundo acadêmico e do mundo do grande capital financeiro como, por exemplo, dos pais fundadores do marxismo (Bernard Marx e Sarojini Engels), de marxistas (Pollly Trotsky), dos arquitetos da nova ordem mundial (Henry Ford e Morgana Rothschild) e do já conhecido escritor romancista (H. G. Wells) – apresenta com interessante nitidez o protótipo do Estado Mundial malthusiano e de extrema lascívia e desapego às questões morais, religiosas e familiares, onde a prática do aborto é incentivada e as crianças são criadas em laboratórios e condicionadas por meio de manipulações psicológicas. No próprio prefácio do livro, Huxley afirma que “À medida que diminui a liberdade política e econômica, a liberdade sexual tende a aumentar como compensação. E o ditador (a não ser que precise de massa de manobra e de famílias para colonizar territórios despovoados ou conquistados) agirá prudentemente estimulando essa liberdade”.
     

A questão ambiental foi transformada pelos socialistas fabianos em problema global. Eles são citados diversas vezes por Pascal Bernardin, em seu livro O Império Ecológico ou A subversão da ecologia pelo globalismo, onde o Conselho das Relações Exteriores, a Comissão Trilateral e o Clube de Roma (outra grupo criado pelos arquitetos da Nova Ordem Mundial em 1968, cujos membros principais são grandes simpatizantes do comunismo) ditam as regras, por meio das organizações internacionais, para interferir nas questões ambientais dos territórios dos Estados nacionais, limitando, assim, as soberanias. Em um relatório intitulado Para além da interdependência, a Comissão Trilateral, conforme Bernardin, diz que “o mundo atualmente passou da interdependência econômica para a interdependência ecológica” e propõem “que as ameaças ecológicas substitua a crença de um conflito nuclear na psicologia coletiva”. Ou seja, o que os arquitetos da Nova Ordem Mundial querem é encontrar inimigos fictícios comuns para justificar o controle sobre os grupos considerados por eles como perigosos, mais especificamente os Estados que se contrapõem às intervenções dos globalistas não aderindo aos regimes internacionais.

A administração do Governo Mundial já foi sobejamente tratada acima, onde as grandes dinastias do mundo tornaram-se dirigentes, tendo como instrumentos de condução e de indução dos seus planos as organizações governamentais e não-governamentais internacionais. A forma de administração é pela via da governança global, que, segundo Bernardin, na obra acima citada, “a dinâmica mundialista converge para a instauração de um sistema de governo global, prelúdio de um governo mundial”, onde o sistema de governança global deve ser instalado, conforme os arquitetos, de forma gradual, pois há uma tendência dos governos em resistir o compartilhamento da soberania nacional, mas que é fundamental ao pleno funcionamento das regras e das instituições multilaterais.

A ruptura com as tradições e os valores morais conservadores está presente no novo senso comum criado pela revolução cultural gramsciana apoiada pelos arquitetos, substancializada pelos mandamentos de Herbert Marcuse, em seu livro Eros e Civilização, que busca dilacerar a família monogâmica e patriarcal (presente também na obra de ficção de Huxley) incentivando as novas gerações a adotarem o “principio de realidade não-repressivo” associada à “abolição da mais-repressão requerida pelo princípio de desempenho”, promovendo a ressexualização do corpo para a ampliação da extensão das relações libidinosas. Há nesse sentido o que Olavo de Carvalho, em sua obra Jardim das Aflições, denominou de embotamento da instituição moral, onde as massas passam a cultuar o “triângulo áureo sexo-dinheiro-fama”, que se constitui “senão num sistema de racionalização que transformará esses três desejos em hipóteses de valores morais universais e em fundamentos máximos de toda a conduta eticamente válida. Completa-se assim a inversão: as paixões mais baixas e vulgares erguem-se ao estatuto de mandamentos divinos, cuja violação sujeita o homem a padecimentos interiores, quando não à execração pública ou a penalidades legais”. Isto é, vivenciamos na contemporaneidade, sob a égide das organizações internacionais, o que Mario Ferreira dos Santos chamou de a “inversão vertical dos bárbaros” em sua obra de mesmo título, onde não só os valores superiores são substituídos pelos valores inferiores, mas estes passam a ser exaltados e aqueles execrados.

   

Com a queda do Muro de Berlim e o fim da divisão bipolar, que dividia o mundo em bloco Ocidental, liderado pelos Estados Unidos, e bloco Oriental, liderado pela União Soviética, os arquitetos da Nova Ordem Mundial buscam, dentro de uma realidade internacional pretensamente multipolar, encontrar uma forma de apresentar um “Ente imanente supranacional” que possa fazer o papel de arbitro, legislador e polícia do mundo. Este Ente é a ONU. Mas para justificar a sua existência foi necessário incutir na mente dos governantes dos Estados nacionais e nos demais atores das relações internacionais que, apesar da improbabilidade de novas guerras regulares, o mundo não está livre das ameaças comuns e que, por tanto, há a necessidade de uma entidade que garanta essa segurança e paz mundial, já que os Estados, dentro da realidade pós-westfaliana e global, tornaram-se, segundo eles, incompetentes para prover a segurança internacional e a própria segurança nacional. É a partir dessa nova forma de descrever, explicar e administrar o novo contexto mundial que se constituiu o que Michael Hardt e Antonio Negri chamaram de um novo conceito de “Império”. Esse novo conceito de “Império”, estabelecido na obra Império, “caracteriza-se fundamentalmente pela ausência de fronteiras: o poder exercido pelo Império não tem limites [...]; o conceito de Império postula um regime que efetivamente abrange a totalidade do espaço, ou que de fato governa todo o mundo ‘civilizado’”; ele “é apresentado como um concerto global, sob a direção de um único maestro, um poder unitário que mantém a paz social e produz suas verdades éticas”. Esse novo paradigma “é definido pelo declínio definitivo dos Estados-nação soberanos, pela desregulamentação dos mercados internacionais, pelo fim do conflito antagônico entre entidades independentes, e assim por diante”. Este novo o Império “é formado não com base na força, mas com base na capacidade de mostrar a força como algo a serviço do direito e da paz”; e, que por meio do direito de polícia e do direito de intervenção, todas as intervenções imperiais tornam-se intervenções policiais para administrar e controlar riscos e perigos que ameaçam a paz mundial como, por exemplo, os problemas globais. Esse conceito de Império “se apresenta, em seu modo de governo, não como um momento transitório no desenrolar da História, mas como um regime sem fronteiras temporais, e, nesse sentido, fora da História ou no fim da História”; ele “não só administra um território com sua população mas também cria o próprio mundo que ele habita”; o Império não “apenas regula as interações humanas como procura reger diretamente a natureza humana”, tendo, assim, como objetivo de governo “a vida social como um todo, e assim o Império se apresenta como uma forma paradigmática de biopoder”; por fim, “apesar de a prática do Império banhar-se continuamente em sangue, o conceito de Império é sempre dedicado à paz – uma paz perpétua e universal fora da História”. Eis aí um conceito bastante apropriado para expressar a essência do poder requerido pelos arquitetos da Nova Ordem Mundial.

No que tange, por fim, a prescrição feita por Wells para a reforma da educação no sentido de libertar as pessoas dos valores impostos pela religião e família, considerados como conservadores e reacionários, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) vem promovendo, desde os anos 60, não uma reforma, mas uma verdadeira revolução na área da educação e, por conseguinte, na área da cultura. Essa revolução é denunciada por Pascal Bernardin em seu livro Maquiavel pedagogo ou o ministério da reforma psicológica, onde afirma que essa organização internacional vem adotando técnicas de manipulação psicológica (engajamento, dissonância cognitiva, dinâmica de grupo, dramatização etc.) para modificar atitudes sociais em escala global, através dos processos educacionais. Essa revolução pedagógica visa “substituir os ensinamentos clássicos e cognitivos por um ensino ‘multidimensional e não cognitivo’ que toque em todos os componentes da personalidade: ético, afetivo, social, cívico, político, estético, psicológico”. Ou seja, a nova pedagogia deve “esvaziar os ensinamentos de seus conteúdos (cognitivos) para substituí-los por um doutrinamento criptocomunista e globalista, que vise modificar os valores, as atitudes e os comportamentos”, sendo a descentralização “o instrumento pela qual isso é alcançado, criando-se uma dinâmica de grupo em escala escolar e comunal, utilizando-se da psicologia do engajamento e das técnicas de manipulação clássicas”. 

Cada item tratado nos seis parágrafos acima daria para desenvolver um estudo descritivo, explicativo ou compreensivo específico bem fundamentado e aprofundado, a partir dos referenciais teóricos apresentados e muitos outros tantos que tratam sobre as temáticas, mas o escopo do nosso texto é apenas tratá-los de forma resumida, mas que possibilite desvelar a problemática em torno da engenharia social ora delineada pelos arquitetos da Nova Ordem Mundial para o estabelecimento de um governo totalitarista de esquerda (ou “totalitarista igualitarista”) em âmbito global. A Conspiração Aberta não é uma ficção ou uma teoria da conspiração como pregam os marxistas e os socialistas fabianos, mas uma realidade em plena vigência, onde os resultados já são percebidos de forma límpida no cotidiano das casas, escolas, templos, ruas etc. Cabe-nos resistir ou aceitarmos passivamente, arcando, assim, com as consequências nefastas de tal revolução cultural.            

Dequex Araujo Silva Junior
Doutor em Ciências Sociais
Membro do Instituto Brasileiro de Segurança Pública
Membro fundador do Instituto Antônio Lacerda