sábado, 5 de janeiro de 2019

O Brasil e a Nova Ordem Mundial: caminhos e descaminhos


Este artigo finaliza, momentaneamente, a proposta inicial de descrever e explicar o movimento revolucionário que visa criar a Nova Ordem Mundial (proposta contida no artigo Preâmbulo para uma análise filosófico-política da Nova Ordem Mundial, publicada nesse Blog em 4 de março de 2018), pois como disse Hannah Arendt, em seu livro Sobre a Revolução, um dos elementos definidor de qualquer revolução é a criação de uma nova história a partir da destruição das histórias anteriores. Finalizei o artigo anterior, Os Arquitetos da Nova Ordem Mundial, afirmando que eles buscam “o estabelecimento de um governo totalitarista de esquerda (ou “totalitarista igualitarista”) em âmbito global” e que a “Conspiração Aberta não é uma ficção ou uma teoria da conspiração como pregam os marxistas e os socialistas fabianos, mas uma realidade em plena vigência, onde os resultados já são percebidos de forma límpida no cotidiano das casas, escolas, templos, ruas etc.”, cabendo a nós “resistir ou aceitarmos passivamente, arcando, assim, com as consequências nefastas de tal revolução cultural”.


Uma questão importante dentro desse cenário tenebroso é identificar o papel do Estado nesse processo, pois os movimentos globalistas, com sua psicopatia de criar uma sociedade mundial, grosso modo, advogam pelo fim do Estado. Mas enquanto isso não chega, os arquitetos da Nova Ordem Mundial utilizam essa comunidade política para propagar suas ideias revolucionárias (por meio dos acordos, protocolos, tratados e regimes internacionais) e destruir as nacionalidades, as culturas locais, as tradições, as histórias nacionais etc. O multiculturalismo é uma dessas formas de destruição do patrimônio cultural nacional. A maioria dos Estados ocidentais é signatária dos tratados e regimes internacionais delineados pela ONU. Alguns poucos resistem ao domínio legislativo das organizações internacionais como é o caso, por exemplo, dos Estados Unidos de Donald Trump, mas a maioria adere fidedignamente como é o caso do Brasil. Dentro desse contexto, qual o papel do Estado brasileiro dentro da construção da Nova Ordem Mundial? 

O Brasil torna-se um ponto de análise, espacial e temporal, interessante, pois é o país que nas ultimas duas décadas diz amém a tudo que a ONU prescreve. Logo, é uma grande aliada dos arquitetos da Nova Ordem Mundial na região para a propagação da ideologia socialista. Essa ideologia não é uma novidade na América Latina e muito menos no Brasil. Aqui o pensamento socialista data da década de 30 com a ascensão do marxismo acadêmico, que não se constituiu numa substituição propriamente dita do positivismo comtiano, reinante no período getulista, mas de uma amalgama daquele com este, adquirindo uma nova espécie de cientificismo, conforme registra Antônio Paim, em sua magistral obra intitulada História das Ideias Filosóficas no Brasil.

Entretanto, foi a partir do regime militar, instaurado justamente para impedir a implantação da república sindicalista de João Goulart, como cita Paim em outra obra (História do Liberalismo Brasileiro), que vai se identificar o marxismo político atuando dentro e fora das Universidades. Neste período, os revolucionários marxistas propagavam o mito da luta em prol da democracia e que o uso da violência como meio justificava o fim, tal como preconizava Georges Sorel, em seu livro Reflexões sobre a Violência, cujo teor é mostrar o papel histórico da violência para fins revolucionários, ou mais especificamente explicar o papel da violência das massas operárias no socialismo contemporâneo.

A preocupação quase que exclusiva das forças armadas com os guerrilheiros revolucionários, que aterrorizavam a vida política nacional com suas estratégias de guerrilha e ações terroristas, possibilitou que outros grupos revolucionários marxistas agissem livremente na disseminação da ideologia socialista no país através das universidades e mídias. Esse grupo é composto pelos chamados intelectuais orgânicos ou intelectuais coletivos, que na sua maioria pertencia ao Partido Comunista, primeiramente, e ao Partido dos Trabalhadores, posteriormente. No sentido gramsciano do termo, os intelectuais orgânicos são os responsáveis em promover a revolução cultural, que a partir da práxis revolucionaria buscam estabelecer um novo pensamento hegemônico e um novo senso comum em substituição aos valores burgueses, ocidentais e cristãos. Nesse sentido, o que os intelectuais orgânicos chamam de ditadura militar nada mais foi do que um regime político que buscou combater os avanços do comunismo no país.
                    
Com a democratização, a violência revolucionária não era mais necessária, pois a primeira barreia tinha sido transposta: a resistência pela força aos militares. Abriu-se, com isso, o caminho para uma nova etapa: a disseminação da práxis socialista em toda a sociedade de forma gradual e contínua. É a partir desse período que se verifica o alinhamento do pensamento socialista nacional, introduzido pela intelectualidade orgânica, sob a tutela do Partido dos Trabalhadores (PT) – criado no início da década de 80 por dissidentes do Partido Comunista, intelectuais, teólogos da libertação e a classe artística –, com os propósitos da Nova Ordem Mundial, que, como já tratamos nos artigos precedentes, visa implantar, por meio da revolução cultural, uma ordem sociocultural nova.

Podemos observar duas formas de alinhamento entre os governos brasileiros, mais notadamente a partir do governo de Fernando Henrique Cardoso, e os propósitos da Nova Ordem Mundial: o Diálogo Interamericano e o Foro de São Paulo. O primeiro (já falamos no artigo anterior) trata-se de um instrumento de execução da Comissão Trilateral, criada em 1982 para disseminar o socialismo fabiano na América Latina. No Brasil, essa espécie de socialismo tem como adepto Fernando Henrique Cardoso e o PSDB, que disseminou, durante o seu governo, os propósitos da Conspiração Aberta de Herbert George Wells (também tratado no artigo anterior). O Foro de São Paulo segue uma vertente de expansão socialista diferente do socialismo fabiano, pois possui um viés marxista-leninista ou marxista-gramscista, bem como adota estratégias que visam a construção de Estados Socialistas na América Latina.

O Foro de São Paulo foi criado no início da década de 90 pelos partidos socialistas da região, sob as lideranças de Lula e Fidel Castro, e possui uma maior influência do que o fabianismo. Após o surgimento do Foro tivemos na primeira década do século XXI um amplo domínio dos governos socialistas vinculados à ideologia marxista-leninista ou marxista-gramscista na América Latina: Argentina: Néstor Kirchner (2003-2007) e Cristina Kirchner (2007-2015); Bolívia: Evo Morales (2006-presente); Brasil: Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2011) e Dilma Rousseff (2011-2016); Chile: Ricardo Lagos (2000-2006) e Michelle Bachelet (2006-2010 e 20014-2018); Cuba: Fidel Castro (1976-2008) e Raúl Castro (2008-meados de 2018); El Salvador: Maurício Funes (2009-2014) e Salvador Sánchez Cerén (2014- presente); Equador: Rafael Correa (2007-2014) e Lenin Moreno (2017-presente); Guatemala: Álvaro Colom (2008-2017); Honduras: Manuel Zelaya (2006-2010); Nicarágua: Manuel Ortega (1985-2010); Paraguai: Fernando Lugo (2008-2012); Peru: Ollanta Humata (2011-2016); República Dominicana: Leonel Fernández (1996-2000; 2004-2012) e Danilo Medina (2012-presente); Uruguai: Tabaré Vázquez (2005-2010); José Mujica (2010-2015); e Tabaré Vázquez (2015-presente); e, Venezuela: Hugo Chávez (1999-2013) e Nicolás Maduro (2013-presente). Observa-se que, com exceção da Colômbia de Álvaro Uribe (2002-2010), os principais países da América do Sul eram governados por representantes da esquerda socialista nesse período, seguindo, assim, o projeto do Foro de São Paulo de implantação de governos socialistas na America do Sul.

As duas formas de alinhamento demonstram bem o comprometimento do Brasil com a Nova Ordem Mundial através das políticas interna e externa. Por meio da política interna, observa-se, por exemplo: politização dos movimentos sócias através do feminismo, gayzismo, ecologismo etc.; controle sobre a imprensa por meio de verbas federais destinadas à grande mídia televisiva e jornalística com o fito de manipular a opinião pública por meio do que foi denominado por Elisabeth Noelle-Neumann de espiral do silêncio em seu livro de mesmo nome; revolução educacional pautada no desconstrucionismo derridariano, no socioconstrutivismo e em teorias de manipulação psicológica como a dissonância cognitiva, tudo isso em detrimento da educação para o desenvolvimento cognitivo e intelectual; censura por meio da ditadura do politicamente correto, que por meio do que George Orwell, em seu livro 1984 denominou de “novilíngua”, visa não descrever uma realidade, mas criar uma realidade fictícia, bem diferente do fato real, bem como limitar a liberdade de expressão e de pensamento dos indivíduos que se opõem ao discurso dominante (a novilíngua é típico de regimes totalitários); política de desarmamento, que foi adotada comumente pelos governos nazista, fascista e comunista para evitar uma revolta civil, retirando o direito de autodefesa do cidadão; garantismo penal, que associada à política de desarmamento, ao sucateamento das polícias e às leis penais permissivas com os desvios de comportamento, torna o ambiente social totalmente favorável para a prática do crime (escrevi recentemente um artigo, juntamente com Gilberto Protásio dos Reis, intitulado A “Crise Orgânica” estimulada na Segurança Pública brasileira, publicado na Revista do Instituto Brasileiro de Segurança Pública); corrupção política, que destruiu, por um lado, economicamente o país com os desvios fabulosos de dinheiro público, inclusive para financiar a revolução socialista na América do Sul e Caribe, e engendrou, por outro, uma repulsa às instituições políticas devido à má política; corrupção moral, que com a lei Rouanet financiou artistas para a propagação da baixa cultura e de valores que se opõem à família, à religião, à tradição e todos os símbolos que representam a alta cultura, seguindo, assim, os mandamentos gramsciano para implantar a revolução cultural; assistencialismo por meio de bolsas e cotas, que criou uma sociedade dividida e de pessoas ressentidas e dependestes do Estado, onde este, por sua vez, ampliou demasiadamente seu controle sobre as pessoas por meio da hipertrofia burocrática, tornando-se deficitário e ineficaz; e, aparelhamento do Estado, que colocou sob a égide dos partidos de esquerda toda a administração estatal, estabelecendo, assim, uma ditadura partidária nos mesmos moldes dos países comunistas.

No campo da política externa, verifica-se a submissão do Brasil aos diversos tratados internacionais multilaterais prescritos pela ONU e seus órgãos como, por exemplo, no âmbito: da educação, com a adesão aos documentos oriundos da UNESCO para a implantação do ensino multidimensional e outras aberrações educacionais, que transformou o ensino brasileiro num dos piores do mundo; do meio ambiente, com a implantação de programas oriundos da Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e o Desenvolvimento da Assembleia Geral das Nações Unidas, cujo maior exemplo é a Conferencia do Rio, também denominada de Cúpula da Terra, e suas dezenas de princípios que estabelecem o que a população e os governos devem e não devem fazer dentro dos seus territórios nacionais (se é que ainda podemos qualifica-los de nacionais), colocando os princípios da soberania e da territorialidade em xeque; e, da política de migração, com as assinaturas dos tratados internacionais de refugiados, onde se verifica nos últimos anos uma onda cada vez maior de imigrantes no país, especialmente de venezuelanos (fruto justamente da ditadura socialista de Maduro), causando um caos na vida social, política, econômica e cultural, por exemplo, de Roraima.

Ambas as políticas estão totalmente afinadas com as linhas de ação estabelecidas no livro prescritivo de Herbert George Wells, A Conspiração Aberta: Diagramas para uma revolução mundial. Só lembrando que a Conspiração Aberta é um sistema de ideias que se baseia numa “síntese das realizações históricas, biológicas e sociológicas”. Para um melhor entendimento do problema vou relembrar algumas das linhas de ação proposta por Wells, comparando com as diretrizes estabelecidas pelo Programa Nacional de Direitos Humanos nº 3 [PNDH 3], criado no governo Lula, através do decreto 7.037, de dezembro de 2009 (lembrando que os PNDH 1 e 2 foram elaborados no governo de Fernando Henrique Cardoso). 

Para o controle do crescimento populacional, por exemplo, os governos socialistas vêm, com o apoio da mídia, destruindo o modelo tradicional de família (heterossexual e monogâmica) com o patrocínio de movimentos sociais em prol do gayzismo e da união homoafetiva (No PNDH 3, a Diretriz 9, Objetivo Estratégico V, Ação Programática ‘d’, reconhece e inclui “nos sistemas de informação do serviço público todas as configurações familiares constituías por lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais, com base na desconstrução da heteronormatividade”),  bem como em favor do abortismo (No PNDH 3. a Diretriz 9, Objetivo Estratégico III, Ação Programática ‘g’, considera “o aborto como tema de saúde pública).

Para a transformação de certos elementos da fauna e da flora nacionais em patrimônio coletivo mundial e de propriedades individuais em propriedades coletivas, podemos verificar com a reforma agrária (No PNDH 3. a Diretriz 7, Objetivo Estratégico III, Ação Programática ‘a’, estabelece o fortalecimento da “reforma agrária com prioridade à implementação e recuperação de assentamentos, à regularização do crédito fundiário e à assistência técnica aos assentados [...]”), com o aumento dos territórios indígenas e com o controle da Amazônia pelas ONGs internacionais vinculadas aos organismos internacionais do meio-ambiente.
     
Para a ruptura com as tradições e os valores morais conservadores, não faltam exemplos (inclusive já citei alguns acima)! Há uma verdadeira invasão vertical bárbara, no sentido dado pelo filósofo Mario Ferreira dos Santos (tratei, juntamente com Reis, sobre esse processo no artigo já citado acima). Não só há uma substituição dos valores nobres por valores inferiores, mas a hipervalorização de tudo que é inferior (a peça de teatro os “Macaquinhos’ é um grande exemplo desse processo de degeneração moral). Podemos verificar outros exemplos no PNDH 3:  a  Diretriz 7, Objetivo Estratégico VI, Ação Programática ‘n’, garante os “direitos trabalhistas e previdenciários de profissionais do sexo por meio da regulamentação de sua profissão”.

Para a eliminação das guerras e o estabelecimento da paz por meio da desmilitarização e do desarmamento, o Brasil, dos governos socialistas, vem adotando medidas contrárias às organizações militares e favoráveis ao desarmamento (como já foi citado aqui). Sobre a desmilitarização das Polícias Militares, não faltam PECs elaboradas por legisladores esquerdistas https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2017/03/10/de-sua-opiniao-pec-permite-desmilitarizacao-da-policia. Sobre o desarmamento, no PNDH 3, a Diretriz 13, Objetivo Estratégico I, Ação Programática ‘a’, visa realizar “ações permanentes de estímulo ao desarmamento da população”. Encontramos também no PNDH 3, diretriz para reduzir a capacidade de enfrentamento das polícias militares ante uma bandidagem cada vez mais armada: a Diretriz 14, Objetivo Estratégico II, Ação Programática ‘c’, visa elaborar “diretrizes nacionais sobre o uso da força e de armas de fogo pelas instituições e agentes do sistema penitenciário”.

Para a reforma da educação para a libertação dos valores impostos pela religião e família, vistos como conservadores e reacionários, o Brasil socialista modificou, como já indicamos acima, toda a metodologia pedagógica para atender as prescrições revolucionárias da UNESCO. A reforma da educação foi extremamente eficiente na destruição da capacidade cognitiva dos jovens braseiros, que não sabem ler, escrever e falar de forma correta, condições estas básicas para interpretar um dado da realidade de forma inteligível. O MEC, totalmente aparelhado pelos intelectuais orgânicos, seguiu piamente a cartilha gramsciana. Ao invés de educar para o desenvolvimento intelectual, deu ênfase à educação sexual, conforme a Diretriz 9, Objetivo Estratégico V, Ação Programática ‘a’, do PNDH 3, que versa sobre o desenvolvimento de “políticas afirmativas e de promoção de cultura de respeito à livre orientação sexual e identidade de gênero, favorecendo a visibilidade e o reconhecimento social”. Também encontramos no mesmo documento uma diretriz que busca assegurar a liberdade de opinião das crianças e adolescentes, ou seja, de contestar a autoridade dos pais, por exemplo: Diretriz 8, Objetivo Estratégico I, Ação Programática ‘e”, assegura “a opinião das crianças e dos adolescentes que estiverem capacitados a formular seus próprios juízos, conforme o dispostos no artigo 12 da Convenção sobre os Direitos da Criança [...]”.

Entretanto, no final do ano que se findou (2018), mais especificamente com a eleição de Jair Bolsonaro à presidência da república, há indicativos de que as aspirações dos governos brasileiros de esquerda de implantar o socialismo no Brasil e de manter a cooperação com os arquitetos da Nova Ordem Mundial estão momentaneamente suspensas. Essa reviravolta, tudo indica, ocorreu devido ao nível de desordem causado pelo processo revolucionário em curso, gerando descontentamento a uma parcela significativa da população. Essa insatisfação foi demonstrada com a eleição de um candidato militar, alinhado com o pensamento liberal (no campo político e econômico) e conservador (no campo moral), e que foi um crítico contundente da política socialista implantada pelo PT, denunciando o processo ideológico nas escolas, a perversão moral, a corrupção política, a política de direitos humanos direcionadas apenas para os bandidos, a supressão da liberdade de expressão pela ditadura do politicamente correto e outras mazelas já citadas aqui neste artigo.

O presidente Jair Bolsonaro, no discurso de posse (01/01/2019), não só reafirmou suas críticas de campanha, mas também mostrou estar bem consciente dos problemas deixados pelos governos de esquerda. Ele enfatizou alguns pontos já aqui indicados: o peso da burocracia estatal por conta do excesso de pessoas em cargos comissionados (120 mil); a corrupção institucionalizada pela esquerda; os elevados índices de criminalidade e a insegurança jurídica em torno da atividade policial; a crise econômica causada pelo assistencialismo e pela corrupção também; e, o processo de ideologização socialista implantada na sociedade. Os ministros também em seus discursos de posse enfatizaram, dentro de suas respectivas pastas, os mesmos problemas já aqui elencados. O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, disse que o Itamarati servirá aos interesses dos brasileiros e não aos interesses dos organismos internacionais (ou seja, aos interesses dos arquitetos da Nova Ordem Mundial). O ministro da Justiça e da Segurança Pública, Sérgio Moro, reafirmou o combate à corrupção ao crime organizado. O ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, como primeiro ato, exonerou todos aqueles que exerciam cargos comissionados e de confiança na Casa Civil, dando início ao processo de desaparelhamento do Estado.

A tarefa do novo governo não será nada fácil. Desfazer toda essa estrutura socialista para a implantação das ideias liberais é substituir, tomando como referência Friedrich August von Hayek, em sua obra O caminho da servidão, o coletivismo pelo individualismo, a planificação econômica pela concorrência; é retirar os indivíduos do caminho da servidão para o caminho da liberdade. A retomada da liberdade significa o retorno do pensamento liberal, mais precisamente aquele presente nos séculos XVIII e XIX, com sua ênfase na liberdade individual, salientada inclusive pelo presidente Bolsonaro no seu discurso de posse.

A história nos mostra que os Estados socialistas não são apenas opressivos e corpulentos, mas também inimigos da democracia. O socialismo democrático é uma utopia como salientou Alexis de Tocqueville em um discurso na Assembleia Constituinte, de 12 de setembro de 1848: “A democracia amplia a esfera da liberdade individual, o socialismo a restringe. A democracia atribui a cada indivíduo o valor máximo; o socialismo faz cada homem um mero agente, um simples número. Democracia e socialismo nada têm em comum exceto uma palavra: igualdade. Mas observa-se a diferença; enquanto a democracia procura a igualdade na liberdade, o socialismo procura a igualdade na repressão e na servidão” (apud Hayek, op cit.).

Dentro desse novo cenário político, o Estado tem uma grande relevância para os ideais liberais, pois tem como função prover as condições necessárias para as realizações individuais. Um Estado menor, porém mais forte; um Estado menos intruso, mas que possibilita um maior nível de liberdade para os indivíduos; um Estado menos dispendioso, mas mais eficaz no cumprimento de suas funções vitais, especialmente no campo da segurança. Essa reviravolta de diretriz política nos leva a crer que o Brasil pode adentrar no que John Micklethwait e Adrian Wooldridge denominaram de Quarta Revolução, no livro de mesmo título, com a “reanimação do espírito da liberdade, atribuindo mais ênfase aos direitos individuais que aos direitos sociais”, e com “a revivificação do espírito da democracia, atenuando os encargos do Estado”. Para eles, o Estado, ao prometer demais, “gera desordem e dependência entre os cidadãos”; e que “apenas reduzindo suas promessas, a democracia será capaz de expressar suas melhores tendências para a flexibilidade, para a inovação e para a solução dos problemas”. A Quarta Revolução é justamente um resgate da liberdade e dos direitos individuais, solapados pelo Estado socialista.

Verifica-se também, dentro desse novo cenário político brasileiro, que há grandes possibilidades de desalinhamento do interesse nacional com os interesses dos arquitetos da Nova Ordem Mundial, como citou o novo chanceler Ernesto Araújo, mas, por outro lado, há uma tendência de um alinhamento com governos que recentemente retomaram os caminhos da liberdade como, por exemplo, os Estados Unidos de Donald Trump. Essa proposta de alinhamento já estava expressa no próprio artigo de Ernesto Araújo, Trump e o Ocidente, onde afirma que o Brasil (alinhado com o anseio do presidente norte-americano de recuperar o passado simbólico, a história e a cultura do Ocidente) “não teria por que sentir-se desconfortável diante de um projeto de recuperação da alma do Ocidente a partir do sentimento nacional”. Ele complementa dizendo que “o Brasil necessita de uma metapolítica externa, para que possamos situar-nos e atuar naquele plano cultural-espiritual em que, muito mais do que no plano do comércio ou da estratégia diplomático-militar, estão-se definindo os destinos do mundo. Destinos que precisaríamos estudar, não só do ponto de vista da geopolítica, mas também de uma ‘teopolítica’”. Ressalta-se que quando o ministro escreveu esse artigo (2017) não imaginava que seria em pouco tempo o novo ministro das Relações Exteriores, logo, terá a oportunidade de colocar em prática o seu anseio teórico. Mas isso é algo que trataremos em uma nova oportunidade. O importante, para registro final, é que com a eleição do governo liberal-conservador de Jair Bolsonaro cria-se uma expectativa de mudanças significativas na política externa nacional e, por conseguinte, na política interna com o desmantelamento do socialismo e com a suspensão da ingerência das diretrizes emanadas dos organismos internacionais na nossa vida sociocultural.

Dequex Araujo Silva Junior
Doutor em Ciências Sociais
Membro do Instituto Brasileiro de Segurança Pública
Membro fundador do Instituto Antônio Lacerda