Este artigo finaliza,
momentaneamente, a proposta inicial de descrever e explicar o movimento
revolucionário que visa criar a Nova Ordem Mundial (proposta contida no artigo Preâmbulo para uma análise filosófico-política da Nova Ordem Mundial, publicada nesse Blog em 4 de março de 2018), pois como disse Hannah
Arendt, em seu livro Sobre a Revolução,
um dos elementos definidor de qualquer revolução é a criação de uma nova
história a partir da destruição das histórias anteriores. Finalizei o artigo
anterior, Os Arquitetos da Nova Ordem
Mundial, afirmando que eles buscam “o estabelecimento de um governo totalitarista
de esquerda (ou “totalitarista igualitarista”) em âmbito global” e que a
“Conspiração Aberta não é uma ficção ou uma teoria da conspiração como pregam
os marxistas e os socialistas fabianos, mas uma realidade em plena vigência,
onde os resultados já são percebidos de forma límpida no cotidiano das casas,
escolas, templos, ruas etc.”, cabendo a nós “resistir ou aceitarmos
passivamente, arcando, assim, com as consequências nefastas de tal revolução
cultural”.
Uma questão importante dentro
desse cenário tenebroso é identificar o papel do Estado nesse processo, pois os
movimentos globalistas, com sua psicopatia de criar uma sociedade mundial, grosso modo, advogam pelo fim do Estado.
Mas enquanto isso não chega, os arquitetos da Nova Ordem Mundial utilizam essa
comunidade política para propagar suas ideias revolucionárias (por meio dos
acordos, protocolos, tratados e regimes internacionais) e destruir as
nacionalidades, as culturas locais, as tradições, as histórias nacionais etc. O
multiculturalismo é uma dessas formas de destruição do patrimônio cultural
nacional. A maioria dos Estados ocidentais é signatária dos tratados e regimes
internacionais delineados pela ONU. Alguns poucos resistem ao domínio
legislativo das organizações internacionais como é o caso, por exemplo, dos
Estados Unidos de Donald Trump, mas a maioria adere fidedignamente como é o
caso do Brasil. Dentro desse contexto, qual o papel do Estado brasileiro dentro
da construção da Nova Ordem Mundial?
O Brasil torna-se um ponto de
análise, espacial e temporal, interessante, pois é o país que nas ultimas duas
décadas diz amém a tudo que a ONU prescreve. Logo, é uma grande aliada dos
arquitetos da Nova Ordem Mundial na região para a propagação da ideologia socialista.
Essa ideologia não é uma novidade na América Latina e muito menos no Brasil.
Aqui o pensamento socialista data da década de 30 com a ascensão do marxismo
acadêmico, que não se constituiu numa substituição propriamente dita do
positivismo comtiano, reinante no período getulista, mas de uma amalgama
daquele com este, adquirindo uma nova espécie de cientificismo, conforme
registra Antônio Paim, em sua magistral obra intitulada História das Ideias Filosóficas no Brasil.
Entretanto, foi a partir do
regime militar, instaurado justamente para impedir a implantação da república
sindicalista de João Goulart, como cita Paim em outra obra (História do Liberalismo Brasileiro), que
vai se identificar o marxismo político atuando dentro e fora das Universidades.
Neste período, os revolucionários marxistas propagavam o mito da luta em prol
da democracia e que o uso da violência como meio justificava o fim, tal como
preconizava Georges Sorel, em seu livro Reflexões
sobre a Violência, cujo teor é mostrar o papel histórico da violência para
fins revolucionários, ou mais especificamente explicar o papel da violência das massas operárias no socialismo
contemporâneo.
A preocupação quase que exclusiva
das forças armadas com os guerrilheiros revolucionários, que aterrorizavam a
vida política nacional com suas estratégias de guerrilha e ações terroristas,
possibilitou que outros grupos revolucionários marxistas agissem livremente na
disseminação da ideologia socialista no país através das universidades e mídias.
Esse grupo é composto pelos chamados intelectuais orgânicos ou intelectuais
coletivos, que na sua maioria pertencia ao Partido Comunista, primeiramente, e
ao Partido dos Trabalhadores, posteriormente. No sentido gramsciano do termo,
os intelectuais orgânicos são os responsáveis em promover a revolução cultural,
que a partir da práxis revolucionaria buscam estabelecer um novo pensamento
hegemônico e um novo senso comum em substituição aos valores burgueses,
ocidentais e cristãos. Nesse sentido, o que os intelectuais orgânicos chamam de
ditadura militar nada mais foi do que um regime político que buscou combater os
avanços do comunismo no país.
Com a democratização, a violência
revolucionária não era mais necessária, pois a primeira barreia tinha sido
transposta: a resistência pela força aos militares. Abriu-se, com isso, o
caminho para uma nova etapa: a disseminação da práxis socialista em toda a
sociedade de forma gradual e contínua. É a partir desse período que se verifica
o alinhamento do pensamento socialista nacional, introduzido pela
intelectualidade orgânica, sob a tutela do Partido dos Trabalhadores (PT) –
criado no início da década de 80 por dissidentes do Partido Comunista,
intelectuais, teólogos da libertação e a classe artística –, com os propósitos
da Nova Ordem Mundial, que, como já tratamos nos artigos precedentes, visa
implantar, por meio da revolução cultural, uma ordem sociocultural nova.
Podemos observar duas formas de alinhamento
entre os governos brasileiros, mais notadamente a partir do governo de Fernando
Henrique Cardoso, e os propósitos da Nova Ordem Mundial: o Diálogo
Interamericano e o Foro de São Paulo. O primeiro (já falamos no artigo
anterior) trata-se de um instrumento de execução da Comissão Trilateral, criada
em 1982 para disseminar o socialismo fabiano na América Latina. No Brasil, essa
espécie de socialismo tem como adepto Fernando Henrique Cardoso e o PSDB, que disseminou,
durante o seu governo, os propósitos da Conspiração
Aberta de Herbert George Wells (também tratado no artigo anterior). O Foro
de São Paulo segue uma vertente de expansão socialista diferente do socialismo
fabiano, pois possui um viés marxista-leninista ou marxista-gramscista, bem
como adota estratégias que visam a construção de Estados Socialistas na América
Latina.
O Foro de São Paulo foi criado no
início da década de 90 pelos partidos socialistas da região, sob as lideranças
de Lula e Fidel Castro, e possui uma maior influência do que o fabianismo. Após
o surgimento do Foro tivemos na primeira década do século XXI um amplo domínio
dos governos socialistas vinculados à ideologia marxista-leninista ou
marxista-gramscista na América Latina: Argentina:
Néstor Kirchner (2003-2007) e Cristina Kirchner (2007-2015); Bolívia: Evo Morales (2006-presente); Brasil: Luiz Inácio Lula da Silva
(2003-2011) e Dilma Rousseff (2011-2016); Chile:
Ricardo Lagos (2000-2006) e Michelle Bachelet (2006-2010 e 20014-2018); Cuba: Fidel Castro (1976-2008) e Raúl
Castro (2008-meados de 2018); El
Salvador: Maurício Funes (2009-2014) e Salvador Sánchez Cerén (2014-
presente); Equador: Rafael Correa
(2007-2014) e Lenin Moreno (2017-presente); Guatemala: Álvaro Colom (2008-2017); Honduras: Manuel Zelaya (2006-2010); Nicarágua: Manuel Ortega (1985-2010); Paraguai: Fernando Lugo (2008-2012); Peru: Ollanta Humata (2011-2016); República Dominicana: Leonel Fernández (1996-2000; 2004-2012) e
Danilo Medina (2012-presente); Uruguai:
Tabaré Vázquez (2005-2010); José Mujica (2010-2015); e Tabaré Vázquez
(2015-presente); e, Venezuela: Hugo
Chávez (1999-2013) e Nicolás Maduro (2013-presente). Observa-se que, com
exceção da Colômbia de Álvaro Uribe (2002-2010), os principais países da
América do Sul eram governados por representantes da esquerda socialista nesse
período, seguindo, assim, o projeto do Foro de São Paulo de implantação de
governos socialistas na America do Sul.
As duas formas de alinhamento
demonstram bem o comprometimento do Brasil com a Nova Ordem Mundial através das
políticas interna e externa. Por meio da política interna, observa-se, por
exemplo: politização dos movimentos
sócias através do feminismo, gayzismo, ecologismo etc.; controle sobre a imprensa por meio de verbas
federais destinadas à grande mídia televisiva e jornalística com o fito de manipular
a opinião pública por meio do que foi denominado por Elisabeth Noelle-Neumann
de espiral do silêncio em seu livro de mesmo nome; revolução educacional pautada no desconstrucionismo derridariano,
no socioconstrutivismo e em teorias de manipulação psicológica como a
dissonância cognitiva, tudo isso em detrimento da educação para o
desenvolvimento cognitivo e intelectual; censura
por meio da ditadura do politicamente correto, que por meio do que George Orwell,
em seu livro 1984 denominou de
“novilíngua”, visa não descrever uma realidade, mas criar uma realidade
fictícia, bem diferente do fato real, bem como limitar a liberdade de expressão
e de pensamento dos indivíduos que se opõem ao discurso dominante (a novilíngua
é típico de regimes totalitários); política
de desarmamento, que foi adotada comumente pelos governos nazista, fascista
e comunista para evitar uma revolta civil, retirando o direito de autodefesa do
cidadão; garantismo penal, que associada
à política de desarmamento, ao sucateamento das polícias e às leis penais
permissivas com os desvios de comportamento, torna o ambiente social totalmente
favorável para a prática do crime (escrevi recentemente um artigo, juntamente
com Gilberto Protásio dos Reis, intitulado A
“Crise Orgânica” estimulada na Segurança Pública brasileira, publicado na
Revista do Instituto Brasileiro de Segurança Pública); corrupção política, que destruiu, por um lado, economicamente o
país com os desvios fabulosos de dinheiro público, inclusive para financiar a
revolução socialista na América do Sul e Caribe, e engendrou, por outro, uma
repulsa às instituições políticas devido à má política; corrupção moral, que com a lei Rouanet financiou artistas para a
propagação da baixa cultura e de valores que se opõem à família, à religião, à
tradição e todos os símbolos que representam a alta cultura, seguindo, assim,
os mandamentos gramsciano para implantar a revolução cultural; assistencialismo por meio de bolsas e cotas,
que criou uma sociedade dividida e de pessoas ressentidas e dependestes do
Estado, onde este, por sua vez, ampliou demasiadamente seu controle sobre as
pessoas por meio da hipertrofia burocrática, tornando-se deficitário e ineficaz;
e, aparelhamento do Estado, que
colocou sob a égide dos partidos de esquerda toda a administração estatal, estabelecendo,
assim, uma ditadura partidária nos mesmos moldes dos países comunistas.
No campo da política externa,
verifica-se a submissão do Brasil aos diversos tratados internacionais
multilaterais prescritos pela ONU e seus órgãos como, por exemplo, no âmbito:
da educação, com a adesão aos
documentos oriundos da UNESCO para a implantação do ensino multidimensional e
outras aberrações educacionais, que transformou o ensino brasileiro num dos
piores do mundo; do meio ambiente,
com a implantação de programas oriundos da Comissão Mundial sobre Meio Ambiente
e o Desenvolvimento da Assembleia Geral das Nações Unidas, cujo maior exemplo é
a Conferencia do Rio, também denominada de Cúpula da Terra, e suas dezenas de
princípios que estabelecem o que a população e os governos devem e não devem
fazer dentro dos seus territórios nacionais (se é que ainda podemos
qualifica-los de nacionais), colocando os princípios da soberania e da
territorialidade em xeque; e, da política
de migração, com as assinaturas dos tratados internacionais de refugiados,
onde se verifica nos últimos anos uma onda cada vez maior de imigrantes no
país, especialmente de venezuelanos (fruto justamente da ditadura socialista de
Maduro), causando um caos na vida social, política, econômica e cultural, por
exemplo, de Roraima.
Ambas as políticas estão
totalmente afinadas com as linhas de ação estabelecidas no livro prescritivo de
Herbert George Wells, A Conspiração
Aberta: Diagramas para uma revolução mundial. Só lembrando que a
Conspiração Aberta é um sistema de ideias que se baseia numa “síntese das
realizações históricas, biológicas e sociológicas”. Para um melhor entendimento
do problema vou relembrar algumas das linhas de ação proposta por Wells,
comparando com as diretrizes estabelecidas pelo Programa Nacional de Direitos
Humanos nº 3 [PNDH 3], criado no governo Lula, através do decreto 7.037, de
dezembro de 2009 (lembrando que os PNDH 1 e 2 foram elaborados no governo de
Fernando Henrique Cardoso).
Para o controle do crescimento populacional, por exemplo, os governos
socialistas vêm, com o apoio da mídia, destruindo o modelo tradicional de
família (heterossexual e monogâmica) com o patrocínio de movimentos sociais em
prol do gayzismo e da união homoafetiva (No PNDH 3, a Diretriz 9, Objetivo
Estratégico V, Ação Programática ‘d’, reconhece e inclui “nos sistemas de
informação do serviço público todas as configurações familiares constituías por
lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais, com base na desconstrução
da heteronormatividade”), bem como em favor
do abortismo (No PNDH 3. a Diretriz 9, Objetivo Estratégico III, Ação
Programática ‘g’, considera “o aborto como tema de saúde pública).
Para a transformação de certos elementos da fauna e da flora nacionais em
patrimônio coletivo mundial e de propriedades individuais em propriedades
coletivas, podemos verificar com a reforma agrária (No PNDH 3. a Diretriz
7, Objetivo Estratégico III, Ação Programática ‘a’, estabelece o fortalecimento
da “reforma agrária com prioridade à implementação e recuperação de
assentamentos, à regularização do crédito fundiário e à assistência técnica aos
assentados [...]”), com o aumento dos territórios indígenas e com o controle da
Amazônia pelas ONGs internacionais vinculadas aos organismos internacionais do meio-ambiente.
Para a ruptura com as tradições e os valores morais conservadores, não
faltam exemplos (inclusive já citei alguns acima)! Há uma verdadeira invasão
vertical bárbara, no sentido dado pelo filósofo Mario Ferreira dos Santos
(tratei, juntamente com Reis, sobre esse processo no artigo já citado acima).
Não só há uma substituição dos valores nobres por valores inferiores, mas a
hipervalorização de tudo que é inferior (a peça de teatro os “Macaquinhos’ é um
grande exemplo desse processo de degeneração moral). Podemos verificar outros
exemplos no PNDH 3: a Diretriz 7, Objetivo Estratégico VI, Ação
Programática ‘n’, garante os “direitos trabalhistas e previdenciários de
profissionais do sexo por meio da regulamentação de sua profissão”.
Para a eliminação das guerras e o estabelecimento da paz por meio da
desmilitarização e do desarmamento, o Brasil, dos governos socialistas, vem
adotando medidas contrárias às organizações militares e favoráveis ao
desarmamento (como já foi citado aqui). Sobre a desmilitarização das Polícias
Militares, não faltam PECs elaboradas por legisladores esquerdistas https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2017/03/10/de-sua-opiniao-pec-permite-desmilitarizacao-da-policia. Sobre o
desarmamento, no PNDH 3, a Diretriz 13, Objetivo Estratégico I, Ação
Programática ‘a’, visa realizar “ações permanentes de estímulo ao desarmamento
da população”. Encontramos também no PNDH 3, diretriz para reduzir a capacidade
de enfrentamento das polícias militares ante uma bandidagem cada vez mais
armada: a Diretriz 14, Objetivo Estratégico II, Ação Programática ‘c’, visa
elaborar “diretrizes nacionais sobre o uso da força e de armas de fogo pelas
instituições e agentes do sistema penitenciário”.
Para a reforma da educação para a libertação dos valores impostos pela
religião e família, vistos como
conservadores e reacionários, o Brasil socialista modificou, como já indicamos
acima, toda a metodologia pedagógica para atender as prescrições
revolucionárias da UNESCO. A reforma da educação foi extremamente eficiente na
destruição da capacidade cognitiva dos jovens braseiros, que não sabem ler,
escrever e falar de forma correta, condições estas básicas para interpretar um
dado da realidade de forma inteligível. O MEC, totalmente aparelhado pelos
intelectuais orgânicos, seguiu piamente a cartilha gramsciana. Ao invés de educar
para o desenvolvimento intelectual, deu ênfase à educação sexual, conforme a
Diretriz 9, Objetivo Estratégico V, Ação Programática ‘a’, do PNDH 3, que versa
sobre o desenvolvimento de “políticas afirmativas e de promoção de cultura de
respeito à livre orientação sexual e identidade de gênero, favorecendo a
visibilidade e o reconhecimento social”. Também encontramos no mesmo documento
uma diretriz que busca assegurar a liberdade de opinião das crianças e
adolescentes, ou seja, de contestar a autoridade dos pais, por exemplo: Diretriz
8, Objetivo Estratégico I, Ação Programática ‘e”, assegura “a opinião das
crianças e dos adolescentes que estiverem capacitados a formular seus próprios
juízos, conforme o dispostos no artigo 12 da Convenção sobre os Direitos da
Criança [...]”.
Entretanto, no final do ano que
se findou (2018), mais especificamente com a eleição de Jair Bolsonaro à presidência
da república, há indicativos de que as aspirações dos governos brasileiros de
esquerda de implantar o socialismo no Brasil e de manter a cooperação com os
arquitetos da Nova Ordem Mundial estão momentaneamente suspensas. Essa reviravolta,
tudo indica, ocorreu devido ao nível de desordem causado pelo processo
revolucionário em curso, gerando descontentamento a uma parcela significativa da
população. Essa insatisfação foi demonstrada com a eleição de um candidato militar,
alinhado com o pensamento liberal (no campo político e econômico) e conservador
(no campo moral), e que foi um crítico contundente da política socialista
implantada pelo PT, denunciando o processo ideológico nas escolas, a perversão
moral, a corrupção política, a política de direitos humanos direcionadas apenas
para os bandidos, a supressão da liberdade de expressão pela ditadura do politicamente
correto e outras mazelas já citadas aqui neste artigo.
O presidente
Jair Bolsonaro, no discurso de posse (01/01/2019), não só reafirmou suas críticas
de campanha, mas também mostrou estar bem consciente dos problemas deixados
pelos governos de esquerda. Ele enfatizou alguns pontos já aqui indicados: o
peso da burocracia estatal por conta do excesso de pessoas em cargos
comissionados (120 mil); a corrupção institucionalizada pela esquerda; os
elevados índices de criminalidade e a insegurança jurídica em torno da
atividade policial; a crise econômica causada pelo assistencialismo e pela
corrupção também; e, o processo de ideologização socialista implantada na
sociedade. Os ministros também em seus discursos de posse enfatizaram, dentro
de suas respectivas pastas, os mesmos problemas já aqui elencados. O ministro
das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, disse que o Itamarati servirá aos
interesses dos brasileiros e não aos interesses dos organismos internacionais
(ou seja, aos interesses dos arquitetos da Nova Ordem Mundial). O ministro da
Justiça e da Segurança Pública, Sérgio Moro, reafirmou o combate à corrupção ao
crime organizado. O ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, como primeiro ato,
exonerou todos aqueles que exerciam cargos comissionados e de confiança na Casa
Civil, dando início ao processo de desaparelhamento do Estado.
A tarefa do
novo governo não será nada fácil. Desfazer toda essa estrutura socialista para
a implantação das ideias liberais é substituir, tomando como referência Friedrich
August von Hayek, em sua obra O caminho
da servidão, o coletivismo pelo individualismo, a planificação econômica pela
concorrência; é retirar os indivíduos do caminho da servidão para o caminho da
liberdade. A retomada da liberdade significa o retorno do pensamento liberal,
mais precisamente aquele presente nos séculos XVIII e XIX, com sua ênfase na
liberdade individual, salientada inclusive pelo presidente Bolsonaro no seu
discurso de posse.
A história nos
mostra que os Estados socialistas não são apenas opressivos e corpulentos, mas
também inimigos da democracia. O socialismo democrático é uma utopia como
salientou Alexis de Tocqueville em um discurso na Assembleia Constituinte, de
12 de setembro de 1848: “A democracia amplia a esfera da liberdade individual,
o socialismo a restringe. A democracia atribui a cada indivíduo o valor máximo;
o socialismo faz cada homem um mero agente, um simples número. Democracia e
socialismo nada têm em comum exceto uma palavra: igualdade. Mas observa-se a
diferença; enquanto a democracia procura a igualdade na liberdade, o socialismo
procura a igualdade na repressão e na servidão” (apud Hayek, op cit.).
Dentro desse
novo cenário político, o Estado tem uma grande relevância para os ideais liberais,
pois tem como função prover as condições necessárias para as realizações
individuais. Um Estado menor, porém mais forte; um Estado menos intruso, mas que
possibilita um maior nível de liberdade para os indivíduos; um Estado menos
dispendioso, mas mais eficaz no cumprimento de suas funções vitais,
especialmente no campo da segurança. Essa reviravolta de diretriz política nos
leva a crer que o Brasil pode adentrar no que John Micklethwait e Adrian
Wooldridge denominaram de Quarta Revolução, no livro de mesmo título, com a “reanimação
do espírito da liberdade, atribuindo mais ênfase aos direitos individuais que
aos direitos sociais”, e com “a revivificação do espírito da democracia,
atenuando os encargos do Estado”. Para eles, o Estado, ao prometer demais, “gera
desordem e dependência entre os cidadãos”; e que “apenas reduzindo suas
promessas, a democracia será capaz de expressar suas melhores tendências para a
flexibilidade, para a inovação e para a solução dos problemas”. A Quarta
Revolução é justamente um resgate da liberdade e dos direitos individuais,
solapados pelo Estado socialista.
Verifica-se
também, dentro desse novo cenário político brasileiro, que há grandes
possibilidades de desalinhamento do interesse nacional com os interesses dos
arquitetos da Nova Ordem Mundial, como citou o novo chanceler Ernesto Araújo,
mas, por outro lado, há uma tendência de um alinhamento com governos que
recentemente retomaram os caminhos da liberdade como, por exemplo, os Estados
Unidos de Donald Trump. Essa proposta de alinhamento já estava expressa no próprio
artigo de Ernesto Araújo, Trump e o
Ocidente, onde afirma que o Brasil (alinhado com o anseio do presidente
norte-americano de recuperar o passado simbólico, a história e a cultura do
Ocidente) “não teria por que sentir-se desconfortável diante de um projeto de
recuperação da alma do Ocidente a partir do sentimento nacional”. Ele
complementa dizendo que “o Brasil necessita de uma metapolítica externa, para
que possamos situar-nos e atuar naquele plano cultural-espiritual em que, muito
mais do que no plano do comércio ou da estratégia diplomático-militar, estão-se
definindo os destinos do mundo. Destinos que precisaríamos estudar, não só do
ponto de vista da geopolítica, mas também de uma ‘teopolítica’”. Ressalta-se
que quando o ministro escreveu esse artigo (2017) não imaginava que seria em
pouco tempo o novo ministro das Relações Exteriores, logo, terá a oportunidade
de colocar em prática o seu anseio teórico. Mas isso é algo que trataremos em
uma nova oportunidade. O importante, para registro final, é que com a eleição
do governo liberal-conservador de Jair Bolsonaro cria-se uma expectativa de mudanças
significativas na política externa nacional e, por conseguinte, na política
interna com o desmantelamento do socialismo e com a suspensão da ingerência das
diretrizes emanadas dos organismos internacionais na nossa vida sociocultural.
Dequex Araujo Silva Junior
Doutor em Ciências Sociais
Membro do Instituto Brasileiro de Segurança
Pública
Membro fundador do Instituto Antônio
Lacerda