No dia 15 de maio, alunos,
professores e sindicalistas saíram às ruas para protestar contra o governo Bolsonaro
por ter promovido cortes na educação federal. Mas como o próprio governo disse,
não foi corte, mas contingenciamento, mas isso não importa para a ala da
esquerda marxista, pois dissociar as palavras das coisas faz parte da
estratégia revolucionária. Esta é uma forma de promover a barbárie como bem denunciou
Mario Ferreira dos Santos, em sua obra Invasão
vertical dos bárbaros: “Uma das mais tristes características de nossa
época, e que já se vem processando há três séculos, e cada vez com mais
acentuada insistência, é o esvaziamento das palavras dos seus verdadeiros
conteúdos etimológicos e intencionais para, desse modo, ser possível mais eficientemente
perturbar as consciências humanas e fazer com que a confusão, no campo das
ideias, avassale todos os setores, a fim de favorecer ideias que servem a interesses
inconfessáveis”.
Durante os governos de Lula e
Dilma medidas como essa, quer corte, quer contingenciamento, foram adotadas,
mas isso não importa para a mentalidade esquerdista revolucionária, pois eles
estão acima do bem e do mal. Eles foram os eleitos pelos seus deuses (Marx,
Lênin, Stálin, Lukács, Gramsci, Marcuse, Alinsky e outros tantos manipuladores
de ideias) para construir um mundo melhor, não para todos (vide Cuba, Venezuela,
Coreia do Norte etc.), mas para as elites, intelectual e política, que se
apropriam de tudo através do Estado para proveito particular: a operação lava
jato não deixa dúvidas, pelo menos para quem quer enxergar com os olhos da
razão e do razoável e não com os olhos da paixão e da imoralidade.
Os insatisfeitos alegam que as
universidades federais reduzirão suas produções acadêmicas com o contingenciamento,
que eles nominam de corte. Mas é importante salientar que a comunidade
acadêmica nacional tende a definir produtividade acadêmica como se produção de
conhecimento fosse. Realmente deveria ser, mas no Brasil das universidades “politicamente
corretas” e ideologicamente dominadas por um só discurso, essa sinonímia, grosso modo, não existe, pois a maioria
dos trabalhos acadêmicos é desprovida de forma, justamente pela pouca
capacidade intelectual dos seus realizadores, ou seja, pela pouca capacidade de
apreender e manipular ideias complexas. Ademais, a maioria desses trabalhos visa
propagar os interesses militantes da elite intelectual marxista-gramscista, que
há mais de 30 anos impera nas universidades. Ou seja, se produz muita
propaganda ideológica e menos conhecimento, pois o objeto de pesquisa não é
percebido como ele é realmente, mas é ele manejado para se moldar aos
interesses, às paixões e às conveniências dos seus autores. Com isso, a verdade
objetiva dá lugar às verdades subjetivas, pois há uma supressão dos elementos
estruturais dos objetos em prol da exaltação dos elementos estruturais dos
sujeitos, especialmente os sensoriais. Não é por acaso que a realidade para
esses pseudos pesquisadores é tão relativa. Também não é por acaso que os
nossos professores de humanas, além de adorarem Hegel e Marx, admirem a
gnoseologia kantiana, pois esta admite apenas um conhecimento ao nível das
sensações, que permite, por sua vez, conhecer somente o fenômeno e nunca o númeno, ou seja, na gnoseologia kantiana
não é possível conhecer a essência do objeto, mas apenas a sua aparência.
Permitam-me uma pequena digressão
para explicar melhor essa questão da forma. Quando digo que um livro é um livro
é porque ele contém a forma de um livro, ou seja, eu não posso dizer que um
livro é um cavalo, pois aquele não possui a forma deste. Quando isso ocorre há
uma falsidade lógica, como indica Mario Ferreira dos Santos, em sua obra Filosofia da afirmação e da negação. A
falsidade lógica é uma não conformidade
entre o ato intelectivo e o objeto formal. De forma contrária, a verdade lógica
é a conformidade entre o ato
intelectivo (o juízo) e o objeto formal. Na nossa realidade nacional, o
desprezo pela forma se evidencia em todos os lugares (nas roupas, na arquitetura,
na literatura, na música etc.). Isso se deve pela perda do senso de estilo, este, diz Richard M. Weaver, em sua obra As ideias têm consequências, “requer
proporção (seja no espaço, seja no tempo), pois a proporção é o princípio
regulador de uma estrutura, e esta é essencial para a percepção intelectual”.
Ou seja, diferentemente da gnoseologia transcendental de Kant, o objeto não é algo
que dependa exclusivamente do intelecto para ganhar uma forma, pois já possui
uma estrutura independente, esta estrutura precisa ser respeitada.
Mas retornando ao propósito do
artigo, não quero tratar de números ou quantidade, mas de qualidade, pois como
também alertou Mario Ferreira dos Santos, em sua obra Filosofia da Crise, a ideologia esquerdista-marxista é uma “filosofia”
do quantitativo, cuja tendência é “considerar os indivíduos apenas como números,
como membros de uma coletividade”, tendendo a “desvalorizar o indivíduo e a valorizar
apenas o componente do grupo, como o soldado, que é reduzido a um número de uma
unidade, e que perde a sua personalidade ante o exército, que o considera
apenas sob ângulos abstratistas”.
A crise da educação nacional não
é uma questão quantitativa, mas qualitativa. Não é abrindo mais vagas nas escolas
e universidades ou aumentando o número de trabalhos acadêmicos que o problema
estará resolvido; não é despejando rios de dinheiro que fará da educação, uma
educação melhor, mas modificando a forma de ensinar. Quando deixamos de adotar uma
pedagogia mais escolástica, onde professor ensina e aluno aprende, para a
malfadada pedagogia socioconstrutivista, onde ninguém ensina a ninguém, logo
ninguém aprende nada, a hecatombe foi inevitável. Com esta pedagogia do “desoprimido”,
os alunos também ficaram “descompensados”, onde não só deixam de saber corretamente
ler, escrever, falar e realizar simples equações matemáticas, mas também de distinguir
o certo do errado, o verdadeiro do falso, o real do irreal, o moral do imoral, ou
seja, com essa pedagogia a perda do discernimento foi a consequência mais imediata
e de proporções quase que irreversível, pelo menos para as gerações forjadas nesse
modelo.
Em entrevista concedida a Laura
Mattos, da Folha de São Paulo, publicada em 9 de maio de 2019, intitulada "Nova pedagogia cria alunos egocêntricos, afirma especialista sueca", a pedagoga sueca
Inger Enkvist fez críticas ao modelo pedagógico centrado no aluno, que é o
modelo socioconstrutivista e paulo freiriano adotado no país com a ascensão da
esquerda marxista-gramscista. Para Enkvist a nova pedagogia se disseminou
internacionalmente por um desejo da esquerda de criar um “novo homem”, sendo
esse projeto tendo que iniciar com as crianças. “Pessoas que querem mudar a
sociedade têm ido dar aulas e administrar escolas. A geração que entrou no
campo da educação nos anos 1960 e 1970 foi muito influente. O que aconteceu é
contraditório. Essa era uma geração antiautoritarismo. Contestava a sociedade
autoritária, mas impôs sua própria autoridade. O que se espalhou foi um
questionamento da autoridade como tradição e como aprendizado”, diz a pedagoga.
Quando questionada sobre a
tendência do ensino centrado no aluno, Enkvist afirmou que essa tendência é
enganosa, pois “normalmente se refere aos estudantes terem o direito de escolher
o que aprender e em qual ritmo. Isso rompe a unidade da sala de aula e muda o
papel do professor para alguém que precisa ter vários conteúdos diferentes para
oferecer para os estudantes, os quais parecem trabalhar por conta própria.
Aprendizado centrado no aluno é a solução para professores que têm que
organizar o trabalho de estudantes com habilidades e interesses muito
diferentes na mesma sala de aula. Porém, aprendizado eficiente é um conteúdo
preparado e explicado por um professor”. Ela cita o exemplo de países como
Cingapura, Hong Kong e Japão, que adotam uma pedagogia centrada no professor,
que é de viés mais tradicional, e que está obtendo excelentes resultados.
Outra pergunta cuja reposta dada
por Enkvist desconstrói uma das premissas básicas da nova pedagogia,
especialmente a socioconstrutivista, é a de que se faz necessário técnicas psicopedagógicas
mirabolantes para desenvolver habilidades sociais e emocionais nos alunos,
favorecendo, assim, a aprendizagem. “Essa é mais uma falsa premissa. O ensino
bom automaticamente desenvolve essas habilidades. Quando tudo funciona bem, o
estudante no primeiro ano aprende a ser pontual, a se sentar quando deve
sentar, a ouvir atentamente, a fazer perguntas educadamente, a participar em
situações de aprendizado respeitando os outros alunos, a seguir instruções, a
se concentrar em aprender, por exemplo, a ler, e a trabalhar de forma cuidadosa
quando está aprendendo a escrever no livro de exercícios. Tudo isso é promover
habilidades sociais e emocionais ao mesmo tempo em que se aprende o conteúdo. O
que é um problema é quando a escola entende que ser centrada no aluno ou ser
inclusiva é permitir que os alunos não sigam regras e instruções. Isso faz os
alunos tão egocêntricos que, aí sim, eles precisam desse conhecimento extra de “habilidades
sociais e emocionais”.
No final da entrevista, quando
perguntado a pedagoga sueca sobre a influência do politicamente correto na
educação, ela argumentou o seguinte: “Se continuarmos a deixar que ideólogos
ditem o que deve ser pesquisado, ensinado e dito, deixamos o campo da liberdade
de pensamento que tem nos levado ao progresso. Devemos defender professores,
pesquisadores e jornalistas que tentam se basear em fatos mais do que em
ideologias”.
Qualquer estudioso sério na área
de educação vai concordar com as respostas dadas pela pedagoga sueca e imputar
ao modelo pedagógico centrado no aluno a total responsabilidade pelo fracasso
educacional que hoje vivenciamos. Qualquer pessoa minimamente lúcida e
desprovida de convicções ideológicas percebe que um modelo educacional que não
se preocupa com a leitura, a escrita, a fala e a resolução de cálculos
matemáticos, ou seja, que não se preocupa com o desenvolvimento cognitivo da
criança com o fito de elevar o seu intelecto e, por conseguinte, a sua
inteligência não pode ser nem considerado um modelo de educação, mas de deseducação.
Mas a elite intelectual marxista vai contestar as evidências afirmando: ou que
está tudo indo conforme o processo e que possíveis equívocos estão dentro do
esperado; ou que o método pedagógico é eficiente, porém não está sendo
devidamente aplicado.
Em suma, as manifestações do dia
15 de maio bem que poderiam ter sido em prol: do direito do professor ensinar e do
aluno aprender; da despolitização da educação; do resgate da autoridade do
professor e da disciplina em sala de aula; do retorno dos debates públicos nas
universidades, onde as divergências intelectuais possam se manifestar livremente;
da produção de conhecimento por meio de pesquisas que elevem a alta cultura, o
discernimento e o entendimento dos alunos; enfim, da qualidade da educação e
não, como eles insistem em defender, da quantidade de vagas, de cotas, de
recursos, de trabalhos etc.
Dequex Araujo Silva Junior
Doutor em Ciências Sociais
Membro do Instituto Brasileiro de Segurança
Pública
Membro fundador do Instituto Antônio
Lacerda