domingo, 4 de março de 2018

Preâmbulo para uma análise filosófico-política da Nova Ordem Mundial


Ao longo de 2017, ano em que criei esse Blog, refletir sobre alguns fenômenos que se apresentaram para mim como importantes e por isso considerei interessante tratá-los aqui. Priorizei mais os aspectos da política e da moral, pois entendo que ambos os aspectos estão estreitamente interligados e atingem diretamente outros campos da vida social (economia, religião, família, cultura etc.).

Finalizei minhas publicações no ano passado com um artigo despretensioso, intitulado Esquerda, Direita, Um, Dois: A velha nova ordem unida política, onde tentei esclarecer, a partir de um livro de Bobbio, o significado dos dois termos. O objetivo era desvelar os interesses reais em torno do conflito que a díade estabelece. Confesso que quando escrevi esse artigo não tinha a ideia da dimensão do problema e o seu grau de complexidade, bem como o reflexo dessa díade dentro da atual conjuntura política nos âmbitos nacional e mundial.

O meu interesse em aprofundar a temática da díade esquerda-direita se deu de forma paulatina, após me debruçar sobre alguns livros, nacionais e internacionais, de teóricos marxistas (inclusive Marx) e teóricos antimarxistas, mais especificamente liberais e conservadores. Essas leituras, ainda em processo inicial, me conduziram a pensar em desenvolver textos, ao longo deste ano, que possam expressar minhas reflexões e entendimentos, no campo da filosofia política, sobre as transformações que estão ocorrendo na ordem social contemporânea e quais as relações dessas transformações com as ideologias marxistas, liberais e conservadoras, não obstante as linhas limítrofes entre as ideologias estarem cada vez mais indefiníveis nos tempos atuais, dificultando ainda mais a análise da estrutura da realidade. Como alerta o ensaísta e diplomata brasileiro José Osvaldo de Meira Penha, em sua obra A ideologia do século XX: ensaios sobre o nacional-socialismo, o marxismo, o terceiro-mundismo e a ideologia brasileira, a China de Deng Xiaoping, com seu processo de modernização e abertura para o mercado, era de esquerda ou de direita? E o Partido Conservador Progressista do Canadá é de esquerda ou de direita? Para o cientista político romeno Vladimir Tismãneanu são poucos os termos que apresentam tantas confusões semânticas como os de direita e esquerda. Ele cita, em seu livro Do comunismo: o destino de uma religião política, que Stálin e Hitler “usurparam e perverteram de maneira criminosa as ideologias revolucionárias de esquerda e de direita, de que se serviram com cinismo para a legitimação da ordem política totalitária”.


Entendo que ao analisar os componentes ideológicos que impulsionam as modificações atuais na ordem social contemporânea, quer no âmbito nacional, quer no âmbito internacional, permite resgatar a temática da política, que nos últimos tempos tem sido obscurecida não só pela prevalência das abordagens economicistas e midiáticas, mas também pela má política, que vem engendrando nesse período o que o filósofo Daniel Innerarity considerou como uma “indignação” sobre ela. Se há algo pior que a má política, diz ele em seu livro A política em tempos de indignação: a frustração popular e os riscos para a democracia, é “a sua ausência, a mentalidade antipolítica com a qual se desvaneceriam as aspirações daqueles que não têm outra esperança a não ser a política, porque não são poderosos em outros âmbitos”.

Abordar a temática da política permite refletir também sobre o aspecto moral da política, algo que está bastante ausente dos estudos e debates acadêmicos aqui no Brasil. E essa ausência causa perplexidade, pois vivenciamos um dos piores momentos históricos no que tange a má política no país, com governos imersos em corrupção, onde são desviadas quantias vultosas de dinheiro que atenderiam, sem dúvidas, necessidades básicas como, por exemplo, segurança, educação, saúde e moradia. Esses governos merecem a nossa lealdade? Com certeza não, pois como afirma o filósofo político Ian Shapiro, em seu livro Os fundamentos morais da política, “deve haver limites para a autoridade legítima de qualquer governo”.

Não se pretende abordar de forma ampla as questões da política e da moral nos textos que serão desenvolvidos aqui nesse espaço, pois um Blog não é o local propício para isso, mas trazer à baila algumas questões e respostas preliminares, com a ajuda de estudiosos da área, sobre a conjuntura e as tendências da organização sociopolítica nos âmbitos nacional e internacional. Ou seja, o que se buscará aqui é instigar os debates, as pesquisas e as leituras sobre uma temática de extrema complexidade e relevância, que refletem direta e indiretamente na vida social de todos nós e que impulsiona fenômenos que são tratados pelos políticos, analistas e pela mídia de maneira desarticulada, mas que fazem parte de um mesmo pacote, a saber: a imposição de uma Nova Ordem Mundial.


Quando afirmo que há uma imposição de uma Nova Ordem Mundial quero dizer que essa nova estrutura de poder está em construção e que essa nova ordem política em formação está sendo imposta de forma universal, logo, as modificações nas instituições sociais (família, educação, religião, direito etc.) não ocorrem por um desgaste natural em suas estruturas, mas por uma imposição, por atos volitivos motivados por interesses camuflados através de discursos ético, holístico, humanístico, multicultural etc., mas na verdade esconde uma política totalitária que atenta contra os direitos individuais. Mas quem quer impor essa Nova Ordem Mundial? Qual o sentido dessa Nova Ordem Mundial? Qual o pensamento ideológico que alicerça essa Nova Ordem Mundial? Qual o modus operandi utilizado para a implantação dessa Nova Ordem Mundial? Essas são algumas questões guias que buscaremos desvelar preliminarmente nos textos seguintes.

Para a compreensão límpida desse fenômeno político vou recorre à filosofia política que é, conforme Leo Strauss (o grande historiador da filosofia política do século XX), “a tentativa de conhecer verdadeiramente tanto a natureza das coisas políticas quanto da ordem política justa e boa”. Ou seja, o que se quer é desvelar a essência dessa nova estrutura de poder em formação e verificar se ela é benéfica ou maléfica às sociedades, em especial à sociedade brasileira. Aqui está a relação estreita entre a política e a moral, pois, como afirma Leo Strauss, em seu livro Uma introdução à filosofia política, “As coisas políticas são, por natureza, sujeitas à aprovação e desaprovação [julgamento], escolha e rejeição, elogio ou censura. É da sua essência não serem neutras, mas reivindicar a obediência, aliança, decisão ou o julgamento dos homens. Não se as entendem como são, como coisas políticas, se não se leva a sério a sua reivindicação explicita ou implícita de serem julgadas em termos de bondade ou maldade, justiça ou injustiça, isto é, se não se mede por algum parâmetro de bondade ou justiça. Para julgar corretamente, devem-se conhecer as normas e os parâmetros verdadeiros”.

Adoto uma postura gnoseológica realista crítica quanto à essência do conhecimento, onde acentuo a verificação dos pressupostos de análise me apoiando em reflexões críticas e epistêmicas, que afirmam que nem todas as propriedades presentes no objeto se originam dele (qualidades primárias), pois existem qualidades nos objetos que são atribuídas pelo sujeito (qualidades secundárias), ou seja, pela consciência. Nesse sentido, entendo o conhecimento como um processo no qual o sujeito cognoscente contribui de forma a criar o objeto cognoscível, me afastando, dessa forma, do realismo tradicional que percebe o objeto como algo já dado objetivamente, onde o sujeito atua de forma passiva.

Após esse preâmbulo, espero atender as expectativas com os próximos textos, onde buscarei partir do geral para o particular, ou seja, da configuração da estruturação da Nova Ordem Mundial à configuração da estruturação da ordem sociopolítica brasileira, extraindo dos fatos que se apresentam nas respectivas realidades os elementos essenciais à compressão da natureza das coisas políticas.

Dequex Araujo Silva Junior
Doutor em Ciências Sociais
Membro do Instituto Brasileiro de Segurança Pública

Membro fundador do Instituto Antônio Lacerda

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