Ao longo de 2017, ano em que
criei esse Blog, refletir sobre alguns fenômenos que se apresentaram para mim
como importantes e por isso considerei interessante tratá-los aqui. Priorizei
mais os aspectos da política e da moral, pois entendo que ambos os aspectos
estão estreitamente interligados e atingem diretamente outros campos da vida
social (economia, religião, família, cultura etc.).
Finalizei minhas publicações no
ano passado com um artigo despretensioso, intitulado Esquerda, Direita, Um, Dois: A velha nova ordem unida política,
onde tentei esclarecer, a partir de um livro de Bobbio, o significado dos dois
termos. O objetivo era desvelar os interesses reais em torno do conflito que a
díade estabelece. Confesso que quando escrevi esse artigo não tinha a ideia da
dimensão do problema e o seu grau de complexidade, bem como o reflexo dessa
díade dentro da atual conjuntura política nos âmbitos nacional e mundial.
O meu interesse em aprofundar a
temática da díade esquerda-direita se deu de forma paulatina, após me debruçar
sobre alguns livros, nacionais e internacionais, de teóricos marxistas (inclusive
Marx) e teóricos antimarxistas, mais especificamente liberais e conservadores.
Essas leituras, ainda em processo inicial, me conduziram a pensar em
desenvolver textos, ao longo deste ano, que possam expressar minhas reflexões e
entendimentos, no campo da filosofia política, sobre as transformações que
estão ocorrendo na ordem social contemporânea e quais as relações dessas
transformações com as ideologias marxistas, liberais e conservadoras, não
obstante as linhas limítrofes entre as ideologias estarem cada vez mais
indefiníveis nos tempos atuais, dificultando ainda mais a análise da estrutura
da realidade. Como alerta o ensaísta e diplomata brasileiro José Osvaldo de
Meira Penha, em sua obra A ideologia do
século XX: ensaios sobre o nacional-socialismo, o marxismo, o terceiro-mundismo
e a ideologia brasileira, a China de Deng Xiaoping, com seu processo de
modernização e abertura para o mercado, era de esquerda ou de direita? E o
Partido Conservador Progressista do Canadá é de esquerda ou de direita? Para o cientista político romeno Vladimir
Tismãneanu são poucos os termos que apresentam tantas confusões semânticas como
os de direita e esquerda. Ele cita, em seu livro Do comunismo: o destino de uma religião política, que Stálin e
Hitler “usurparam e perverteram de maneira criminosa as ideologias
revolucionárias de esquerda e de direita, de que se serviram com cinismo para a
legitimação da ordem política totalitária”.
Entendo que ao analisar os
componentes ideológicos que impulsionam as modificações atuais na ordem social
contemporânea, quer no âmbito nacional, quer no âmbito internacional, permite resgatar
a temática da política, que nos últimos tempos tem sido obscurecida não só pela
prevalência das abordagens economicistas e midiáticas, mas também pela má
política, que vem engendrando nesse período o que o filósofo Daniel Innerarity considerou
como uma “indignação” sobre ela. Se há algo pior que a má política, diz ele em
seu livro A política em tempos de
indignação: a frustração popular e os riscos para a democracia, é “a sua
ausência, a mentalidade antipolítica com a qual se desvaneceriam as aspirações
daqueles que não têm outra esperança a não ser a política, porque não são
poderosos em outros âmbitos”.
Abordar a temática da política permite
refletir também sobre o aspecto moral da política, algo que está bastante
ausente dos estudos e debates acadêmicos aqui no Brasil. E essa ausência causa
perplexidade, pois vivenciamos um dos piores momentos históricos no que tange a
má política no país, com governos imersos em corrupção, onde são desviadas
quantias vultosas de dinheiro que atenderiam, sem dúvidas, necessidades básicas
como, por exemplo, segurança, educação, saúde e moradia. Esses governos merecem
a nossa lealdade? Com certeza não, pois como afirma o filósofo político Ian
Shapiro, em seu livro Os fundamentos
morais da política, “deve haver limites para a autoridade legítima de
qualquer governo”.
Não se pretende abordar de forma
ampla as questões da política e da moral nos textos que serão desenvolvidos
aqui nesse espaço, pois um Blog não é o local propício para isso, mas trazer à
baila algumas questões e respostas preliminares, com a ajuda de estudiosos da
área, sobre a conjuntura e as tendências da organização sociopolítica nos
âmbitos nacional e internacional. Ou seja, o que se buscará aqui é instigar os
debates, as pesquisas e as leituras sobre uma temática de extrema complexidade
e relevância, que refletem direta e indiretamente na vida social de todos nós e
que impulsiona fenômenos que são tratados pelos políticos, analistas e pela
mídia de maneira desarticulada, mas que fazem parte de um mesmo pacote, a saber:
a imposição de uma Nova Ordem Mundial.
Quando afirmo que há uma
imposição de uma Nova Ordem Mundial quero dizer que essa nova estrutura de
poder está em construção e que essa nova ordem política em formação está sendo
imposta de forma universal, logo, as modificações nas instituições sociais
(família, educação, religião, direito etc.) não ocorrem por um desgaste natural
em suas estruturas, mas por uma imposição, por atos volitivos motivados por
interesses camuflados através de discursos ético, holístico, humanístico,
multicultural etc., mas na verdade esconde uma política totalitária que atenta
contra os direitos individuais. Mas quem quer impor essa Nova Ordem Mundial?
Qual o sentido dessa Nova Ordem Mundial? Qual o pensamento ideológico que
alicerça essa Nova Ordem Mundial? Qual o
modus operandi utilizado para a implantação dessa Nova Ordem Mundial? Essas
são algumas questões guias que buscaremos desvelar preliminarmente nos textos
seguintes.
Para a compreensão límpida desse
fenômeno político vou recorre à filosofia política que é, conforme Leo Strauss
(o grande historiador da filosofia política do século XX), “a tentativa de
conhecer verdadeiramente tanto a natureza das coisas políticas quanto da ordem
política justa e boa”. Ou seja, o que se quer é desvelar a essência dessa nova
estrutura de poder em formação e verificar se ela é benéfica ou maléfica às
sociedades, em especial à sociedade brasileira. Aqui está a relação estreita
entre a política e a moral, pois, como afirma Leo Strauss, em seu livro Uma introdução à filosofia política, “As
coisas políticas são, por natureza, sujeitas à aprovação e desaprovação
[julgamento], escolha e rejeição, elogio ou censura. É da sua essência não
serem neutras, mas reivindicar a obediência, aliança, decisão ou o julgamento
dos homens. Não se as entendem como são, como coisas políticas, se não se leva
a sério a sua reivindicação explicita ou implícita de serem julgadas em termos
de bondade ou maldade, justiça ou injustiça, isto é, se não se mede por algum
parâmetro de bondade ou justiça. Para julgar corretamente, devem-se conhecer as
normas e os parâmetros verdadeiros”.
Adoto uma postura gnoseológica
realista crítica quanto à essência do conhecimento, onde acentuo a verificação
dos pressupostos de análise me apoiando em reflexões críticas e epistêmicas, que
afirmam que nem todas as propriedades presentes no objeto se originam dele
(qualidades primárias), pois existem qualidades nos objetos que são atribuídas
pelo sujeito (qualidades secundárias), ou seja, pela consciência. Nesse
sentido, entendo o conhecimento como um processo no qual o sujeito cognoscente
contribui de forma a criar o objeto cognoscível, me afastando, dessa forma, do
realismo tradicional que percebe o objeto como algo já dado objetivamente, onde
o sujeito atua de forma passiva.
Após esse preâmbulo, espero atender as
expectativas com os próximos textos, onde buscarei partir do geral para o
particular, ou seja, da configuração da estruturação da Nova Ordem Mundial à
configuração da estruturação da ordem sociopolítica brasileira, extraindo dos
fatos que se apresentam nas respectivas realidades os elementos essenciais à
compressão da natureza das coisas políticas.
Dequex Araujo Silva Junior
Doutor em Ciências Sociais
Membro do Instituto Brasileiro de Segurança
Pública
Membro fundador do Instituto Antônio
Lacerda
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